Nota prévia: Escrevi sobre este assunto, uma crónica em 2007. Por estar actualíssima, tomo a liberdade de dá-la novamente à estampa com uma ou outra rectificação temporal.
Em finais de 1993 tomei, conjuntamente com a minha mulher, a decisão de abandonar Lisboa e vir assentar arraiais nesta cidade de Castelo Branco.
Fi-lo por duas razões essenciais: a primeira para poder oferecer, à nossa filha Joana, uma oportunidade de crescer num ambiente muito mais saudável e seguro e em segundo lugar porque ainda acreditava que era fácil inverter a tendência de desertificação que já se sentia por estas bandas.
Estava longe de imaginar que essa desertificação viesse a ser tão acentuada e fundamentalmente que progredisse tão rapidamente.
E é assim que nos encontramos em março de 2018, com elevados níveis de abandono das nossas aldeias com cada vez menos habitantes por metro quadrado, que implica, depois de sucessivos governos racionalizarem meios e torná-los mais eficazes como, o fecho de escolas, a concentração das estruturas públicas regionais, a optimização das urgências com encerramento de umas e criação de outras, o fecho de alguns tribunais e inevitavelmente, num futuro mais ou menos próximo, a extinção de freguesias e concelhos.
Quer isto dizer que o Estado abandona de vez o Interior? Ou que não há futuro para o Interior, seja aqui na Beira, no Alentejo ou no Planalto Transmontano?
Penso que não. Nem uma coisa nem outra!
O que acho verdadeiramente é que os beirões, os alentejanos e os transmontanos não podem ficar quedos e mudos à espera que o Estado lhes aponte caminhos porque isso não irá certamente acontecer.
E não vai acontecer porque ninguém tem uma solução milagrosa para inverter o actual estado de coisas e estas coisas não se fazem por decretos.
;as será que o Poder Central tem feito alguma coisa para modificar este estado de coisas?
Não, falam muito mas pouco fazem! São escassos os votos destas regiões, o que acarreta pouca ou nenhuma preocupação com os que cá vivem.
É pois necessário que sejam as gentes do Interior a pensar as suas próprias regiões, cidades, vilas e aldeias.
Pensar como reinventar o Interior. Em conjunto! Em rede como agora se diz! Fazendo experiências! Inovando! Criando emprego! Motivando as pessoas a virem e a ficar!
É um trabalho árduo e difícil. Tão difícil quanto difícil é fazer algo que desconhecemos. Mas é essa característica do desconhecimento que torna a tarefa ao mesmo tempo tão aliciante.
Esta tarefa não pode ser só do sector político das sociedades regionais. Tem obrigatoriamente de contar com o empenhamento do maior número possível de pessoas.
Empresários, professores, políticos, juventude, intelectuais, trabalhadores, donas de casa e todos aqueles que sintam que vale a pena viver aqui, criar raízes neste Interior tão abandonado, mas ao mesmo tempo tão sedutor.
O meu contributo, comecei a dá-lo há vinte e quatro anos atrás, quando decidi vir com armas e bagagens de Lisboa para cá.
Por aqui tenho andado, participando nos desafios que a vida me tem colocado pela frente, com a certeza que contabilizando os prós e os contras o saldo é seguramente positivo.
Falta agora o trabalho de, pensar para reinventar o Interior, assegurando-lhe um futuro pródigo em acontecimentos e desenvolvimentos felizes!
Esta minha crónica pretende ser o ponto de partida para essa reflexão necessária, importante, mas que tem ao mesmo tempo que ser imaginativa.
Escrevi-o há onze anos atrás, reitero-o convictamente hoje.
Se estive partidariamente ativo até 2015, hoje a liberdade que readquiri com o abandono da vida partidária, permite-me encarar a questão com uma visão mais ampla e seguramente mais livre.
É difícil, é. É impossível, não!
Queiram os homens e tudo se faz, tudo se constrói.
Vamos a isto!
*José Lagiosa, diretor do beiranews.pt