Estamos a pouco mais de um ano, mês menos mês, das eleições legislativas de 2019.
O governo liderado por António Costa, apoiado à esquerda, pelo PCP e pelo BE, começa por isso mesmo, a sentir alguns sintomas negativos, pelo menos, por parte de um desses parceiros.
Na realidade, o PCP através de algumas das estruturas dominadas por militantes comunistas, começa a dar sinais de oposição, circunstância que estaria no horizonte de muitos observadores, pois o desgaste no Partido Comunista é substancialmente maior e mais perigoso que porventura o do Bloco.
Por seu turno, o partido do chefe do governo, o PS, enfrenta desde já, duas questões que deveriam estar, ao partido e aos seus dirigentes, a preocupar seriamente.
Estou a falar do novo líder do PSD, Rui Rio e do ex-secretário geral do PS e ex-primeiro ministro, José Sócrates.
Se Rio não é um problema eleitoral muito significativo, já José Sócrates poderá vir a sê-lo.
Rui Rio não é um problema eleitoral mas, exactamente pelas mesmas razões de não o ser, levanta outros perigos, pois qualquer que seja o governo em funções necessita sempre de uma voz crítica, credível e reconhecida que sirva de contrabalanço às políticas governamentais e que se apresente como real alternativa.
É assim que se consolidam políticas equilibradas e se transmite sentimentos de confiança no eleitorado, ganhando ao mesmo tempo, um cenário de fiscalização e com alternativa credível à governação, o que com este PSD e a sua liderança não parece existir.
Resta somente um CDS, ainda demasiado pequeno para desempenhar tal papel.
Por outro lado, é já evidente que o actual Presidente da República vai ter, na sua recandidatura, um concorrente feroz, um autêntico animal político, de nome José Sócrates.
Se até há muito pouco tempo, haveria na opinião pública, muitas dúvidas sobre o futuro político do ex-primeiro ministro, parece, à luz dos últimos acontecimentos, que Sócrates está a preparar, desde já, uma eventual candidatura à presidência, na qual terá como grande adversário, o actual Presidente, parecendo, já óbvio, que Marcelo Rebelo de Sousa não deixará de se recandidatar.
No meio destes dois cenários, a pressão sobre o governo e sobre António Costa, aumentará e sinceramente, em qualquer dos dois, a coisa não parece ser favorável ao socialista.
Dirão alguns que estes são dois cenários forçados e não plausíveis.
Não tenho tanta certeza assim. José Sócrates não perdoa, nem perdoará, a frieza de Costa e a falta de apoio, no caso judicial que persegue o antigo primeiro ministro, há vários anos.
Em política tudo se paga, os apoios, os não apoios, os abandonos. Costa optou sempre, por ignorar politicamente, a prisão e o processo de Sócrates.
O antigo primeiro ministro não lho perdoa e vai cobrar-lhe logo que possa e apresentar a sua candidatura à presidência, pode ser o primeiro passo. Cá estaremos para ver.
Por outro lado, a ausência de uma oposição forte, o CDS não tem ainda essa força, por parte do ainda maior partido da oposição, actualmente com um líder que nem dentro da sua própria organização tem maioria, apesar da vitória pequenina que conseguiu, contrariamente ao que parece óbvio, não ajuda o primeiro ministro.
Qualquer governo, seja ele qual for, necessita de uma oposição forte e fiscalizadora. Ora o PSD, com Rio, nem é uma coisa, nem outra, havendo mesmo quem já preconize a caída do líder até ao final do Verão.
A tão ansiada maioria absoluta por parte do PS, parece estar a começar a ficar, cada vez mais ao alcance de António Costa, embora estas condicionantes aqui apresentadas, possam vir a alterar os cenários mais conservadores.
Os próximos meses anteciparão, o que irá acontecer no futuro e lá para o final do Verão teremos, decerto, uma clarificação dos dois cenários aqui equacionados.
Até lá fiquem bem, pensem o que querem para futuro de Portugal, para chegada a hora votarem em consciência.
Por hoje desejo, a todos os leitores do Beiranews, uma Páscoa recheada de coisas boas.
*José Lagiosa, director beiranews.pt
