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Quarta-feira, Dezembro 6, 2023
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Sócrates, o político e o homem

Nunca fui propriamente amigo de José Sócrates.
Fui, isso sim, seu apoiante convicto e sempre considerei que, se a direita e as esquerdas não tivessem chumbado o PEC 4 em conjunto, provavelmente o ex-primeiro ministro teria dado a volta ao momento conturbado de então e teríamos poupado uma governação de direita controversa e desastrosa para milhares de portugueses.

José Lagiosa

Esclarecidos neste ponto, importa agora falarmos no que tem vindo a desenrolar-se em torno de José Sócrates e não falo do comportamento de alguns dos atores da justiça portuguesa, falo do linchamento público que se tem vindo a fazer, em lume brando, de um cidadão que, até prova em contrário, merece como cada um de nós, a presunção de inocência.
Se dos sectores da direita portuguesa tudo se esperaria, foi no entanto com imensa surpresa que vi e ouvi, Fernanda Câncio, dirigentes e deputados do PS, virem a público antecipar uma “sentença”, sobre um processo que ainda nem data marcada tem para o respectivo julgamento.
Como é possível que dirigentes que privaram com o antigo secretário-geral do PS venham agora, quais pecadores arrependidos, atirar pedras àquele com quem politicamente pactuaram durante anos.
Não quero com isto dizer que Sócrates é um santo. Não, quem o conhece sabe com o que pode contar. O que importa é separar o político do homem.
Sempre ouvi dizer, “à política o que é da política e à justiça o que é da justiça”.
Sócrates durante o tempo da investigação e após a acusação formal sempre manteve uma distância de “segurança” com o PS de forma a salvaguardar as devidas mazelas que o processo pudesse causar quer ao partido quer ao próprio governo chefiado por António Costa.
Foi pois com espanto que assisti nas últimas semanas ao sacudir, por cima do ombro, a qualquer preço e sem o mínimo pudor, eventuais responsabilidades pessoais ou colectivas sobre o comportamento de José Sócrates.
A fuga para a frente vai-lhes sair muito cara.
Seja qual for o desfecho do processo, o PS e o seu secretário-geral vão ficar mal na fotografia.
Como escreveu José António Saraiva, ontem na sua “Política a Sério”, no semanário SOL, referindo-se ao PS e aos seus dirigentes e parlamentares, “era difícil condenar Manuel Pinho e continuar a ignorar os escândalos do tempo de Sócrates” ou ainda “a descarga de fogo sobre José Sócrates foi, assim, desencadeada pelo caso Pinho”.
Resta saber quais as consequências que advirão daqui para a frente.
Saraiva deu já o mote, no texto que referi atrás. “José Sócrates sabe muito sobre o PS e, … pode tornar-se um adversário perigoso”.
Haverá, por esse país fora, quem esteja, porventura, já com as pernas a tremer. No que me toca vou continuar a dormir descansado.

*José Lagiosa, diretor beiranews.pt

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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