Os clubes mais representativos do futebol português, têm vindo, ao longos da última década, a traçar caminhos, um tanto ou quanto perigosos, cujos episódios da última semana são, seguramente, preocupantes.
Durante anos as suspeitas existiam, contudo, nem a justiça chegava a conclusões pertinentes, nem os episódios eram suficientemente escrutinados pelas audiências de forma a chegar a haver respostas a muitas das perguntas que pairavam no subconsciente de muitos portugueses.
Rivalidade, falsos testemunhos, tudo servia de desculpa a este povo de brandos costumes, ao ponto de nunca se chegar a saber se alguma ponta de verdade existia no muito que se ouvia falar acerca da matéria.
Os anos foram passando, os interesses económicos em torno da indústria futebolística aumentaram de forma exponencial, a justiça desportiva e não só, assobiava para o lado, mas os rumores existiam e foram aumentando de tom sem que alguém ou alguma das instituições que lideram o futebol nacional tomassem, iniciativas tendentes a repor a ordem e a moral no clima que se vivia.
Pelo meio, Portugal organizou o Euro 2004, com a obtenção de um 2º lugar, participou interruptamente desde 2000, até ao passado ano de 2016, quando venceu, pela primeira vez o Europeu, numa final entusiasmante, quanto sofrida, em Paris, contra a selecção anfitriã.
Este ano, de Mundial na URSS, para o qual a selecção portuguesa se apurou e cuja convocatória foi esta semana anunciada pelo seleccionador nacional, Fernando Santos, o clima precipitadamente azedou-se, com acusações entre os três grandes, exatamente os mesmos que têm sido alvo de inúmeras desconfianças e acusações de actividades e acções pouco claras.
Não vou aqui, tecer sobre as razões que assistem a cada um dos três grandes.
Isso são questões que as polícias e os tribunais terão investigar, julgar e condenar, se for caso disso.
Até lá, seria razoável e expectante que cada um dos clubes, e estou naturalmente a falar do FC Porto, do SL Benfica e Sporting CP, zelassem pelos seus investimentos e desportivos e financeiros por forma a rentabilizá-los tão fortemente quanto possível.
E afinal ao que assistimos durante quase toda a época? Ataques e contra ataques entre eles com o Sporting a ser o mais acutilante, logo seguido do Porto e com o Benfica, apesar de tudo a ter a posição mais soft.
A juntar a tudo isto assistimos, ainda, a um pacto de não-agressão, entre leões e azuis, que visava enfraquecer os encarnados.
Mas isto até pode ser considerado normal e aceitável. O que já não se consegue entender é o que se tem passado no clube de Alvalade.
Um clube que apostou muito e corre o risco de nada vencer, ou quase tudo, com declarações de dirigentes pra dirigentes cerca da gestão, das palavras, da condução da própria equipa e um presidente que depois de muita algazarra, ao longo da época, dispara em todas as direcções mas com especial ênfase para dentro da própria equipa e da sua liderança técnica.
Não vou aqui tecer grandes considerações pois não estou na posse de informações que mo permita fazer, com alguma, margem de segurança.
No entanto pelo que se vai sabendo, parece-me um daqueles casos “em casa que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.
Afinal não foram os sportinguistas, que há pouco mais de três meses, expressaram, em Assembleia Geral altamente concorrida, o apoio ao senhor “chefe de claque”, Bruno de Carvalho por mais de 85% de votos?
Termino citando José António Saraiva que, escrevia na sua coluna de opinião no semanário Sol de ontem, a propósito:
“Tive sempre muita dificuldade em perceber como foi possível o pivô alemão ter seguido tão cegamente Hitler – até à queda no abismo. Mas o ‘fenómeno’ Bruno de Carvalho ajuda explicá-lo. Ainda hoje, depois de tudo o que se passou, há gente a defender o presidente do Sporting.
Num misto de populismo e demência, Bruno de Carvalho foi ultrapassando sucessivamente linhas vermelhas, alguns sportinguistas foram-se habituando, foram desculpando, com medo de se demarcarem do presidente que ‘dava tudo pelo clube’ – e acabam por ser cúmplices de episódios criminosos, como muitos alemães foram cúmplices do terror de Hitler”.
Pois é…
Resta desejar a toda a comitiva portuguesa que vai estar no Mundial 2018, na Rússia, em especial aqueles que vão ser, dentro das quatro linhas, uma extensão de milhões de torcedores lusitanos, bem como ao timoneiro da equipa, mister Fernando Santos, a maiores venturas em mais uma epopeia do futebol português. Felicidades rapazes!
Aos meus amigos sportinguistas, acompanho-os na esperança que tudo se resolva rapidamente, antes que seja tarde, para bem do clube e do futebol português.
*José Lagiosa, diretor beiranews.pt