Algo vai mal no seio do PSD. Os desentendimentos entre o grupo parlamentar e o líder do partido têm sido uns atrás dos outros, desde que Rui Rio venceu as eleições para a liderança dos sociais democratas.
Bem sabemos que a vitória de Rio não foi folgada, porventura até muito pouco provável, nos bastidores dos seus barões, que desde a primeira hora convencionaram que lhe iam fazer a vida negra.
E de certo modo não têm deixado, por mão alheias esse desiderato. Por outro lado, Rui Rio também sabia que a vida não lhe seria facilitada.
Onde esta realidade é mais evidente, é exactamente no Parlamento, onde a esmagadora maioria da bancada, escolhida por Passos Coelho, nos seus tempos de presidente do partido, tem feito gala dessas posições antagónicas, com o pensamento político do antigo presidente de Câmara da segunda maior cidade do País.
Rui Rio sabia-o e, na minha opinião, preparou-se para ir gerindo politicamente o partido, tendo na sua bancada, quase que uma oposição que não pode descartar, antes das próximas legislativas.
Até lá, vai armadilhando a gestão das posições diversas, das gentes que representam o passado político recente do partido e vai criando as condições internas que vão permitir, baralhar e voltar a jogar, finalmente com as suas peças, nos diversos tabuleiros políticos, nomeadamente na Assembleia da República.
E chegados aqui, coloca-se a questão de saber, porque conhecendo o ambiente e o frenesim que palpita no grupo parlamentar do PSD, se não teria sido, porventura, aos olhos de muitos, mais cauteloso na sua postura mais sóbria na questão da discussão e votação dos diplomas sobre a legalização da eutanásia.
O momento da declaração favorável à aprovação da despenalização, não foi nem desastrosa nem tão pouco inocente.
Rui Rio, sabendo que a esmagadora maioria dos deputados do PSD iria votar contra a despenalização, evitou uma guerra de confronto com o grupo parlamentar, ainda por mais, numa matéria tão delicada, libertou-os para votarem consoante a consciência de cada um deles, mas não deixou, por mãos alheias, ao dar aos eleitores a sua posição clara, deixando para os deputados do PSD o ónus da votação contra a despenalização.
Rui Rio, contrariamente ao que dizem esses deputados, não geriu o processo desastrosamente, antes separou, desde já as águas, foi intelectualmente honesto, o que é raro nos líderes partidários e deixou a porta aberta para incluir, no programa eleitoral, uma proposta oficial do PSD, o que se traduzirá desde já no afastamento dos deputados, que agora o acusam, nas listas das próximas legislativas. “Touché”!
É vê-los agora preocupados com a postura do líder. Pessoas como Luís Montenegro, Carlos Abreu Amorim, Passos Coelho e Santana Lopes, só para citar alguns, estão a antecipar o seu luto político. Eles sabem bem que não se safam com este Rui Rio que, goste-se ou não, nada tem a ver com o PSD que vem desde os tempos de Passos Coelho.
Cá estaremos para ver se será ou não o cenário em 2019. Sim porque Rio tem a perfeita noção que este tempo que se vive e as próximas eleições para o Parlamento, serão ainda do PS.
Portanto lógico é ele fazer exactamente isto, arrumar a casa. Depois, bem depois teremos de esperar para ver, mas não tenho dúvidas que Rui Rio está a começar a prepara o PSD, para as eleições legislativas de 2023. Assim o deixem e ele consiga!
*José Lagiosa, diretor do beiranews.pt