Perfizeram, durante o mês de maio passado, quatro anos sobre o anúncio, em plena cerimónia oficial da Câmara Municipal de Lisboa, da disponibilidade de António Costa, para assumir a liderança do PS.
Pela primeira vez, na história do Partido Socialista, um líder democraticamente reeleito para o cargo é desafiado a ir a votos, por questões de mera estratégia pessoal, encapotada por uma necessidade absoluta de aproveitar, o resultado vitorioso das eleições europeias de 2014, por escassa margem, denegrindo quem uns meses antes tinha levado o PS a ter a maior vitória eleitoral autárquica, até então.
António José Seguro não se negou ao repto, democratizando e alargando a todos os eleitores a hipótese de escolha do secretário-geral do partido, instituindo, após aprovação em Comissão Nacional, das primeiras Eleições Primárias da história do PS, que infelizmente haveria de perder.
Costa assume assim a liderança e contrariamente ao prometido aos militantes socialistas, não conseguiu vencer as legislativas, salvando a pele com a milagrosa “geringonça”, cujos resultados políticos concretos, estão bem longe do que então foi anunciado e prometido.
Sejamos claros, a quatro anos de distância o que ganharam, o país e os portugueses, com esta escalada de poder de um homem que mais que estratégia política, usa a sua estratégica pessoal para ir conseguindo aquilo que, sem estes “golpes”, não conseguiria.
Alguns meses depois destes acontecimentos que terminaram com a eleição de Costa, em consequência daquilo que à data apelidei de traição, acabei por cortar a minha relação com o PS que vinha de há quarenta anos (1974) e justifiquei na minha carta de desvinculação com caráter imediato, duas razões distintas mas complementares:
“1ª – Continuar a não entender as razões porque o atual secretário-geral, resolveu, contrariamente ao que é normal no PS e em processos democráticos, exigir e encetar a substituição de um secretário-geral democraticamente eleito e com inteira legitimidade democrática para continuar a exercer o seu mandato,
2ª – Não reconhecer após o processo das Primárias que tivesse havido mais-valias para o partido, como indiciam as sondagens, e não concordar com tudo o que se tem passado com a liderança, ou falta dela, do atual secretário-geral, António Costa”.
Hoje penso o mesmo e mantenho as mesmas críticas ao PS e a António Costa.
Houve ainda um tempo em que acreditei na possibilidade de retornar ao partido.
Neste momento contudo, não prevejo a mínima hipótese, por mais ínfima que seja, de o voltar, alguma vez, a fazer.
Hoje os partidos e o neste caso, em particular o PS, transformou-se num clube, igual a tantos outros, em que o que está em jogo são os interesses pessoais de dirigente nacionais, regionais e locais, quais teias que abalam, denigrem e transformam os agentes políticos em mensageiros dos seus próprios interesse, contra os interesses das populações e dos eleitores.
Hoje as cortes, nos diversos patamares de interesses, são cada vez maiores, a democraticidade interna, não só no PS como em outros partidos, é manifestamente deficitária e os resultados estão à vista de quem já não se deixa cegar pela propaganda política barata, independentemente da aldeia, vila ou cidade que se escolha.
Até os parceiros da “geringonça”, se dão ao luxo de devaneios capitalistas, nuns casos, e de uma complacência que só fragiliza a democracia ou espécie de democracia em que vivemos.
E atrevam-se, os incautos a levantar a voz contra os “senhores do reino”, pois logo terão a resposta adequada, mesmo que pela calada de decisões arbitrárias, mas sempre justificáveis pelo interesse maior das urbes e da “democracia”.
Mas lembrem-se que, como dizem os ditados populares, “cá se fazem, cá se pagam” e “quem semeia ventos, colhe tempestades”.
E por hoje termino, desejando a todos os que ainda vão para tempo de descanso, umas boas férias.
*José Lagiosa, diretor do beiranews.pt