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A morte ao serviço da vida

Todos já ouvimos falar que o estudo da anatomia no ensino da medicina é fundamental para a compreensão e a boa prática médica dos futuros profissionais de saúde.
Pois bem, o que me leva a escrever, hoje, sobre esta matéria, prende-se com a ausência de cadáveres para a prática desse ensino.
Não digo que não seja realizado. Não, antes pelo contrário. Torna-se essencial aos estudantes de mediciina, a dissecação de corpos no estudo anatómico.

José Lagiosa

A questão é que cada vez menos os “corpos” deixatam de ser os cadáveres de pessoas falecidas e passaram a ser réplicas de “figuras humanas” em borracha, o que não exatamente a mesma coisa.
Esta é aliás uma questão que acompanho há vários anos, já lá vão dez anos, data em que fui sensibilizado por um artigo na imprensa onde era dada uma panirâmica da situação à data, sobre esta questão, pelo diretor do Instituto de Anatomia do Porto, professor Doutor Manuel Barbosa.
Foi pois com a maior naturalidade e desprendimento terreno que, resolvi doar o meu corpo, tendo em vista a formação de futuros médicos.
Espero vivamente que quando a morte chegar, os meus familiares que são testamentários desta vontade, a respeitem.
“Diz-se, e com razão, que só se aprende verdadeiramente Anatomia dissecando. O acto de observar, a descoberta, o adestramento manual e a comparação do normal com o anormal conferem a esta técnica de ensino potencialidades únicas não suplantadas por qualquer outro método, por mais perfeito que seja. Com efeito, estes são impessoais e carecem de algo fundamental a quem aprende medicina: REALISMO E HUMANIDADE. Por isso, continua a ser o método de auto-aprendizagem por excelência e o seguido nas Universidades mais prestigiadas, em que os curricula da disciplina de Anatomia são baseados na prática sistemática da dissecção”*.

*Proveniência do Material Cadavérico para Fins de Ensino Pré e Pós-Graduado ao Longo dos Tempos. Importância da Doação do Corpo
M.M. Paula-Barbosa, Professor de Anatomia da Faculdade de Medicina do Porto. Publicado no Papel do Médico, n°14, 2000

E a minha predisposição para doar o meu corpo para este fim, aumentou quando tive conhecimento que, à data [2007], já tinham passado quatro anos sem que um único corpo tivesse sido recebido.
Foi pois com a maior naturalidade e desprendimento terreno que, resolvi doar o meu corpo, tendo em vista a formação de futuros médicos.
Enviei então, em junho de 2007, para o Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto uma declaração, onde faço a doação do meu corpo.
Espero vivamente que quando a morte chegar, os meus familiares que são testamentários desta vontade, a respeitem.
Católico, por nascimento e educação, evolui posteriormente para o agnosticismo e ultimamente considero que estou cada vez mais próximo do ateísmo, o que consolidou em cada um destes estágios uma, ainda maior convicção na certeza desta minha opção.
Passados estes dez anos sobre a doação do meu corpo, constato que nada se evoluíu nesta matéria, continuando a haver um enorme défice de cadáveres.
Sei que a tradição e a educação de uma larga margem de portugueses ou mesmo a falta de conhecimento destas questões, conduzem a realidades em matérias como estas.
No entanto, pergunto se não é tempo de a governança nacional e aqui falo nomeadamente aos partidos de esquerda que suportam o atual executino, Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português de trazerem à discussão pública esta questão e promoverem uma ampla discussão, em torno da mesma.
Tenho a certeza que médicos professores e os estudantes que ambicionam ser médicos, agradeciam.

*José Lagiosa, diretor beiranews.pt

 
 
 
 

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