Naquele dia de Abril, há mais de quarenta anos, a esperança desceu à rua e renasceu para milhões, a expetativa de dias melhores, com um salário justo e com condições de vida dignas, em liberdade. Para outros este dia, parecia ter marcado o princípio do fim!
Hoje, quase quarenta e cinco anos passados, aparentemente com a democracia estabilizada, sob o ponto de vista político, o domínio da economia por grandes grupos e por especuladores financeiros, arrastaram Portugal para um beco de difícil saída, apesar de se tentar vender diferentes cenários, resta-nos a nostalgia da esperança de chegarem melhores dias!
Abril está por cumprir na maioria das suas vertentes. No plano social, no plano laboral, no plano económico e mesmo no plano político.
Não se pense que, o que quero dizer, com esta afirmação é fazer um discurso extremado à esquerda ou à direita. Não! O que quero dizer é que, mesmo numa sociedade organizada, na forma e no conteúdo, à imagem de tantas outras na Europa, Portugal, a sua classe política e os próprios portugueses poderiam e deveriam ter feito bem melhor nestes últimos quarenta anos, de maneira a que a realidade com que hoje nos deparamos fosse, muito diferente daquilo que é.
Portugal e as esperanças de Abril têm vindo a ser adiadas ano após ano, governo após governo. E ao terem regredido nos quatro anos de um governo de direita, o que antecedeu, o atual, não se viram mudanças práticas. Mudou o discurso, isso sim, mas na prática pouco terá mudado. Hoje, de Abril, pouco mais resta do que a Liberdade e mesmo essa ameaçada.
Esta realidade não é no entanto somente culpa de alguns. É culpa de todos, a começar por aqueles que tão mal dizem do país, mas que são os primeiros a reivindicar tudo e mais alguma coisa, quando se trata de encher os seus próprios bolsos.
Os militares de Abril, cuja expressão máxima de pureza foi Salgueiro Maia, fizeram Abril, com o Povo e para o Povo. Hoje, o Povo alheou-se de Abril e parece ter esquecido que, por mais que não fosse, Abril valeu a pena pela Liberdade. Mas Abril foi e será sempre mais que a Liberdade.
Foi o fim de uma guerra injusta e devastadora. Foi o nascer de novas nações. Foi a viragem para a Europa, essa Europa que hoje é uma miragem nos nossos sonhos, foi uma nova esperança! Foi um redescobrir de realidades do país há muito esquecidas. Foi desenvolver apesar de muitos erros, Portugal!
Se me perguntarem se valeu a pena, direi apenas como o poeta que “tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”.
É necessário, no entanto, não ter vergonha de Abril e preservar os seus símbolos e fundamentalmente as suas memórias. Hoje, mais do que nunca é um imperativo democrático,
Tratar mal a memória de Abril é seguramente um exercício de negação da própria liberdade que Abril e os seus militares nos ofereceram!
Agora mais do que chorar mágoas, apontar erros e culpados é necessário olhar em frente, cabeça erguida e enfrentar os novos desafios que se colocam a todos nós.
Neste tempo natalício, mais que afirmar é necessário começar a mudar, mudar de políticas, reorganizar verdadeiramente o país. Portugal não pode continuar adiado!
Este o meu pedido ao Pai Natal.
Se queremos cumprir Abril! Porque ainda podemos cumprir Abril!
*José Lagiosa, diretor beiranews.pt