Há quem diga que a História tem tendência a repetir-se.
Às vezes, pelo menos é o que parece.
Depois de em maio de 2014 e depois da maior vitória autárquica com a maior vitória até então, em eleições para o Poder Local, seguida de uma vitória em Europeia por uma margem aparentemente pequena, o então secretário geral do PS, António José Seguro, viu o agora primeiro ministro, António Costa, desafiá-lo na liderança do PS.
Esse desafio acabou, como estarão lembrados, num exercício democrático, nunca até então experimentado em Portugal, as tão badaladas Primárias do PS.
Como estarão lembrados depois de uma intensa campanha, António Costa acabou por vencê-las e tornar-se secretário geral do PS.
Passados quase quatro anos, politicamente intensos, com Costa a conseguir uma derrota eleitoral mas com arte e engenho a tornar-se primeiro ministro à custa de um acordo com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista que se mantém de pé, contra todas as expetativas, ainda hoje, permitindo ao PS o exercício governativo.
À data muito criticado, nomeadamente nos partidos à sua direita, António Costa conseguiu, com arte e engenho, transformar uma derrota numa vitória, ainda que ao perder as eleições colocou em causa toda a argumentação usada para fazer cair Seguro, sem daí ter coragem ou vergonha para tirar as necessária e democráticas conclusões dessa derrota.
No PSD, Luís Montenegro, à data, foi um dos que declarou alto e bom som que no seu partido nunca seria possível acontecer algo semelhante ao que aconteceu a Seguro, no PS.
Eis quando, o próprio Montenegro desafia, Rui Rio a auscultar o partido, a quatro meses de eleições Europeias.
Montenegro, caso Rui Rio atendaas suas reivindicações, está à beira de se tornar o Costa do PSD.
Cada vez mais as regras democráticas, pouco importam, no seio dos partidos da área do poder.
É um vale tudo, na defesa dos nossos próprios interesses pessoais, sem respeitar a legitimidade democrática.
Foi assim com Costa, os portugueses não lhe deram a maioria nas legislativas de 2015, será assim com Montenegro nas legislativas de 2019.
Com este tipo de comportamentos ficam mal os próprios, ficam mal os partidos, ficam mal os portugueses e fica mal a democracia.
Depois de quase 45 anos de vivência democrática, seria expectável que a democracia tivesse uma saúde e uma vitalidade sem mácula.
O que assistimos, tristemente, é a perversão dos mais elementares valores democráticos, a começar pelos seus próprios agentes, num exercício desmesurado de ganância, despudor e antidemocrático.
Mais que uma democracia, o país parece uma qualquer e banal república das bananas, numa qualquer ilha perdida nos confins do mundo.
E tudo isto com o beneplácito de uma velha e caduca União Europeia, ultrapassada no tempo, pela burocracia e antigos hábitos que a conduziram ao que ele hoje é e o que inevitavelmente representa aos olhos dos povos europeus.
Estamos ainda “longe” de saber o desfecho desta demanda de Luís Montenegro.
O que sei é que a repetir-se o desfecho similar ao do PS em 2014, mais do que os respetivos partidos, quem mais fica a perder, são os portugueses, a democracia e o futuro do país.
*José Lagiosa, diretor do beiranews.pt