Sempre encarei o desporto com desportivismo, respeitando amigos e conhecidos, mesmo quando de outros clubes que não o meu, num exercício de respeito, educação e liberdade pela opções clubistas de cada um.

Em retorno exijo, exatamente, o mesmo comportamento dos demais cidadãos deste país, representem eles o que representarem.
Foi pois com imensa tristeza e estupefação que li uma declaração do antigo profissional de futebol, Jorge Andrade, a propósito do lançamento do dérbi para a Taça de Portugal, tomando como referência o desempenho de João Félix na partida do domingo anterior para a Liga.
“Eu, se ainda jogasse, dava-lhe só um pisão e não havia mais João Félix durante o jogo”, disse o antigo jogador do Estrela da Amadora, do FC Porto, do Desportivo da Corunha e da Juventus.
Jorge Andrade foi um jogador que granjeou admiração dos adeptos, independentemente de todos os clubes, foi vítima de inúmeras lesões, muitas delas, a ultrapassar os níveis de razoabilidade na prática desportiva, tendo terminado a sua carreira, em virtude das mazelas que as mesmas lhe foram provocando ao longo das épocas.
Como é possível que um jogador use a televisão para afirmar tamanha monstruosidade?
Quero acreditar que foi algo dito sem pensar, na corda bamba que é o comentário em direto, mas atenção que observações desta natureza, podem ter consequências nefastas em jovens jogadores que o possam ter ouvido.
Bem sei que Jorge Andrade já tentou explicar a sua afirmação mas a televisão é perigosa a este nível.
Fica no subconsciente de muitos dos espetadores, por uma ou outra razão, a afirmação inicial e veremos, agora que Jorge Andrade assumiu funções na equipa técnica da equipa principal do Vitória de Setúbal, se o feitiço não se vira contra o feiticeiro.
O desporto, regra geral, e o futebol, mesmo o profissional, em particular, têm de ser uma festa contínua, de promoção do espetáculo, da prática desportiva, da sã convivência.
As práticas têm de ser condizentes com as palavras e vice verso.
Queremos acreditar, pelas palavras do próprio, que a intenção de Jorge Andrade era perfeitamente antagónica, àquela que conseguiu, mas um ex praticante da qualidade que ele foi tem de ter mais cuidado no uso de expressões e ideias similares a estas que tanto brado, provocaram, principalmente porque proferidas num meio de comunicação com a força e abrangência como a televisão.
Como diz o provérbio, “à mulher de César, não basta ser honesta, tem de parecer honesta” ou se preferirem a afirmação de Cícero, “não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la”.
Fiquem bem e bom domingo desportivo!