Nesta última semana, dois nefastos acontecimentos levaram-me a refletir no país em que Portugal se tem vindo a tornar.
As mortes, uma a do professor e psicanalista Carlos Amaral Dias e a outra a do ator José Lopes, por razões diferentes, chocaram o país e a mim próprio.
Carlos Amaral Dias morreu, porque o INEM demorou duas horas para socorrer um alerta de AVC. Não resistiu à espera tão demorada.
A outra morte, a do ator José Lopes, ainda sem se conhecerem as causas, aconteceu numa tenda de campismo, onde o ator se abrigava e só foi descoberto alguns dias depois.
Morrer por falta de assistência a tempo ou morrer com um tratamento de cão vadio são situações que um país, como Portugal, não pode permitir, este Portugal a quem um dia, a 25 de Abril de 1974, os militares devolveram a Liberdade e a vontade de voltar a ser livre.
Mas será que passados estes 45 anos, somos realmente livres?
A Liberdade implica não só o podermos desabafar ou criticar o que vai menos bem mas, também, as condições de vida que permitam sermos cidadãos de corpo inteiro, com direito ao pão que nos alimenta mas também à saúde, ao trabalho, à cultura, à educação e a tanto mais.
Nestes dois casos, o direito à assistência à saúde não se verificou e um homem bom morreu por isso mesmo, falta de assistência urgente a uma situação de urgência. Inexplicável e indesculpável!
Outro, sem trabalho, sem meios de subsistência dignos de um ser humano, morreu abandonado, solitário sabe-se lá porquê. Frio, fome, talvez a conjugação das duas situações. Sem direito a uma habitação minimamente condigna, só alguns dias após a morte, o seu corpo frio foi encontrado.
Por outro lado uma casta de oportunistas, políticos, subservientes ao dinheiro e ao poder, passeiam-se em luxuosos automóveis, servem-se dos dinheiros públicos e assobiam para o lado quando acontecem estas tristes ocorrências.
Afinal para que serviu o 25 de Abril?
Afinal de que estamos à espera?
Afinal quando é que colocamos termo a este estado de coisas?
Às vezes dou comigo a pensar que os portugueses, na sua grande maioria, são masoquistas militantes.
Desde que as desgraças e misérias não lhes cheguem a eles, está tudo bem! Mas um dia também lhes irá bater à porta. Aí será tarde!