Com o título “Nigra Sum – A Mulher Negra na Poesia de Amor Lusófona do século XVI ao século XXI”, acaba de ser publicada, a antologia de poesia organizada pelo poeta Gonçalo Salvado, edição da Lumen e da Livraria Sá da Costa Editora,de Lisboa, em parceria com a Quinta dos Termos.
A antologia, agora lançada em estreia, insere-se numa coleção de poesia, única no panorama editorial português, cujas obras surgem em original formato livro/garrafa.

O livro conta com capa e desenhos de “nu feminino”, concebidos para o efeito por Roberto Chichorro, consagrado artista moçambicano em cuja obra o feminino e o erótico ocupam um lugar de relevo. A obra inclui ainda um texto de abertura de Maria João Fernandes.
A antologia evoca no título um versículo do Cântico dos Cânticos, célebre poema de amor do Antigo Testamento, na tradução latina da Vulgata: “Nigra Sum, sed Formosa”: “Sou Negra, mas formosa” ou “Sou Negra, e formosa”. Reúne alguns dos mais significativos poemas amorosos em língua portuguesa – portugueses, africanos e brasileiros – dedicados à Mulher Negra (alguns com referências ao tema do vinho, atendendo à especificidade da coleção) acompanhados por notas biográficas de cada autor. A obra, pretende constituir-se como uma homenagem a Sulamita, a figura feminina referida no Cântico dos Cânticos, e a Bárbara escrava, celebrizada no poema imortal de Camões.

É essencialmente um Hino de louvor à Mulher Negra e um contributo literário contra o preconceito racial, sendo o racismo um dos temas de actualidade, este ano, no mundo inteiro.
Nas palavras de Gonçalo Salvado: “Erigida como um dos símbolos previligiados da sensualidade feminina, a mulher negra sempre despertou o fascínio, o encantamento e a paixão dos nossos poetas de todas as latitudes e de todos os tempos. Já enaltecida no Cancioneiro Geralde Garcia de Resende, editado em 1516 e até aos nossos dias, ela inspirou aquele que é talvez o mais belo e sublime poema de amor escrito em língua portuguesa, as célebres endechas Camonianas que consagraram para todo o sempre, nas nossas letras, não apenas a sua beleza física, capaz de acender o mais ardente desejo mas, igualmente, a irradiação da sua alma que tem vindo a inspirar o mais puro amor. “
De referir que não é a primeira vez que o autor associa numa obra o Cântico dos Cânticos à poesia de Luís de Camões.

Gonçalo Salvado é autor da trans-criação/antologia Camões Amor Somente, publicada em Salamanca, Espanha, em 2000.
O livro é uma tentativa de construção de um Cântico dos Cânticos e de uma Arte de Amar em língua portuguesa a partir de fragmentos da lírica, da épica e da dramaturgia camonianas.
A pré-apresentação da antologia Nigra Sum, aconteceu a 31 de Julho de 2020 , dia em que se comemorou o Dia da Mulher Negra Africana e consistiru numa breve intervenção gravada de Inocência Mata, escritora Santomense, Professora Universitária e Investigadora e especialista em literatura Africana, galardoada com o Prémio Fémina em 2015.
A intervenção gravada foi exibida na página de facebook da editora Lumen.
Do texto de abertura de Maria João Fernandes destacamos: “A antologia Nigra Sum, organizada pelo poeta Gonçalo Salvado no ano em que o racismo tem estado em causa, manifesta uma vez mais a fidelidade do autor à temática amorosa que está no cerne da sua obra poética e da sua investigação. Para além de uma homenagem à mulher negra, esta obra é um verdadeiro manifesto poético a favor da universalidade do arquétipo do feminino e da beleza que lhe está associada. Uma verdadeira sinfonia a muitas vozes onde sentimos ecoar em pano de fundo a ancestralidade do continente africano, o exotismo de uma natureza cúmplice e selvagem que parece ter guardado o esplendor paradisíaco das suas origens.”