Se me pagassem uma moedinha apenas, por todas as vezes que ouvi falar “daquela lojinha” ali ao lado que trata dos papéis todos, nem imaginam como estaria (quase) rica.
O que é que isto quer dizer? Simples. Nunca ouviram o ditado de que o barato saí caro? Expressão tão pouco complexa, mas carregadinha de verdade. Então, passo a explicar. O português “portuguesando”, tem sempre uma opinião sobre tudo e pensa sempre que sabe mais que todos, ou conhece alguém, que é melhor do que todos os outros, até.

Vamos perceber de uma vez por todas, o dito “zé da esquina” que tem uma lojinha, que faz contratos da luz ou da Internet, que tem seguros, vende casas e ainda é contabilista, dificilmente é um profissional com competências profissionais de qualidade, em qualquer uma destas actividades tão díspares, quanto mais ainda prestar conselhos e consultas jurídicas.
Vejo, praticamente todos os dias, senão todos mesmo, uma publicação numa rede social qualquer, ou de um consultor imobiliário, de uma agência de seguros, a fazer publicidade a prestar possíveis esclarecimentos jurídicos por parte de quem não tem essa competência. Perceba-se, isto é crime! O crime para muitos desconhecidos, e por tantos desvalorizado, tem um nome. Chama-se Procuradoria Ilícita! A lei proíbe especificamente a prática de actos jurídicos por quem não tem essa habilitação. Leia-se, que quem estudou na faculdade um ano de Direito, ou teve algumas cadeiras de Direito, não o torna competente nessa matéria, torna-o apenas estudioso e curioso, nada mais!
Nós, profissionais liberais – Solicitadores ou Advogados – tivemos de andar na faculdade a estudar Solicitadoria ou Direito, investir muito tempo em estudo, exames, provas orais, investir em todos os códigos ou doutrina – sim, de levar qualquer um à demência e à falência – para quê? Ao fim de terminarmos a licenciatura, se quisermos ter a competência efectiva de “advogar”, temos de passar por um estágio, não remunerado, e finalmente um exame, para ser associado de uma ordem. E que exame!
Pensam que acaba por aqui o nosso percurso académico? Nunca! É até ao fim da nossa carreira. Uma profissão ligada à letra da lei, é uma profissão que está em constante mutação diária e que requer o estudo constante, e uma actualização eficaz, para defendermos da melhor forma os nossos clientes.
No entanto, não se enganem em imaginar que a culpa é só do “zé da esquina”, porque não é. A culpa acaba por ser, maioritariamente, de quem procura este tipo de soluções profissionais abrangentes, afinal, a oferta só existe quando há procura.
Confesso que não sou uma daquelas profissionais que está sempre em cima deste tipo de crime, tem-me mesmo passado ao lado muitas situações destas que testemunhei, sem ter apresentado queixa, ao invés de muitos colegas meus, que publicam várias situações num grupo para profissionais numa rede social, e consequentemente fazem queixa, mas há dias não consegui fechar mais os olhos.
Estava eu a “navegar” na internet, quando vejo uma publicação de um consultor imobiliário, que até tinha boa imagem dele e que o achava bastante competente, em que dizia tão simplesmente que prestava esclarecimentos sobre Heranças e Partilhas! Como assim, Heranças e Partilhas?! Fiquei completamente espantada e desiludida, honestamente.
Questiono-me, será que estes profissionais pagam as quotas mensais da ordem, fazem descontos para a caixa de previdência?
A prática do crime de procuradoria ilícita, só continua a acontecer, porque ainda há quem os procura. Por favor, não alimentem mais este tipo de prestação de serviços, e procurem quem é competente em cada área.
Ao final do dia, o que é que os Portugueses acabam por preferir, além da competência? A ignorância. O barato saí caro. Já disse isto hoje?