“Já passaram quantos anos desde a última vez que falámos, perguntou ele”
“Já passaram quantos anos desde a última vez que falámos, perguntou ele”, em cena até 1 de maio
Depois da estreia a 19 de abril, dia de reabertura dos teatros, a peça “Já passaram quantos anos desde a última vez que falámos, perguntou ele”, de Rui Pina Coelho, com encenação de Gil Salgueiro Nave, continua em cena no Auditório do Teatro das Beiras, até 1 de maio.
Sessões a 23 de abril e de 28 a 30 de abril, às 19h e nos dias 24 de abril e 1 de maio, às 11h.
As apresentações respeitam as normas da Direção-Geral de Saúde em vigor, pelo que a lotação é limitada.
As reservas deverão ser feitas antecipadamente para os telefones 275 336 163 ou 963 055 909.

Sobre “Já passaram quantos anos desde a última vez que falámos, perguntou ele”:
Rui Pina Coelho (autor)
Ainda sobre este texto
Já passaram quantos anos desde a última vez que falámos, perguntou ele, um texto que escrevi em 2011 para um espectáculo estreado no TEP – Teatro Experimental do Porto, é uma peça que gostava muito que fosse sobre a minha geração e sobre aquilo que nos tem acontecido.
É sobre os nossos amores, casamentos, divórcios, as mudanças de casa, as partidas. Sobre o passar dos anos, sobre o entrar na vida adulta, sobre abandonar sonhos, sobre arranjar trabalho, sobre trabalhar, sobre andar apaixonado.
Gostava que este texto fosse uma
Um texto sobre amigos que vêem os amigos a crescer e a mudar. Um texto sobre a vida que fui vivendo, sobre a que me foram contando e sobre a que fui vendo.
Em casa, no trabalho, nas ruas, nas manifestações, nos livros e nos jornais.
Passaram, entretanto, dez anos. E este é agora um texto para hoje. Para o que ainda nos vai acontecendo. E tem acontecido tanta coisa.
A peça é construída num diálogo próximo com um outro texto, estreado em Portugal em 1967, no Teatro Experimental do Porto: O tempo e a ira, de John Osborne, com encenação de Fernando Gusmão.

As quatro personagens do meu texto (Jaime, Cláudio, Alice e Helena) são “projecções” (mais ou menos distorcidas) de quatro das personagens do texto de Osborne: do arquetípico jovem revoltado Jimmy Porter; do enigmático mediador afável Cliff; da frágil e estóica Alison, a filha do Coronel; e da intensa Helena Charles, actriz.
Além disso, aquilo que “acontece”ao quarteto português é o mesmo que “aconteceu” ao quarteto britânico.
Os amores e desamores são (mais ou menos) os mesmos. Os erros são (mais ou menos) os mesmos. A raiva é mais ou menos a mesma. Mas com uma diferença maior.
Nos anos cinquenta os Angry Young Men revoltavam-se contra todo um sistema de valores que declaravam obsoleto.
Punham em questão as noções de Império, de masculinidade, de identidade, de futuro. A raiva era essencialmente uma questão geracional.
“Look Back in Anger apresenta a juventude do pós-guerra tal como ela é […]. Todas as suas qualidades estão lá, qualidades que já não supúnhamos ver aparecer em palco – a deriva para a anarquia, um instintivo ideário de esquerda, a rejeição automática das atitudes ‘oficiais’, um sentido de humor surrealista, a promiscuidade casual, a sensação de que falta uma cruzada pela qual valha a pena lutar e, sublinhando tudo isto, a determinação de que ninguém deve morrer sem que se lhe faça o luto”, escrevia o influente crítico Kenneth Tynan, numa crítica entusiasmada titulada “A voz dos jovens” (Observer, 13 de Maio de 1956).
E terminava a sua crítica com a apaixonada declaração: “Não sei se seria capaz de amar alguém que não queira ir ver Look Back in Anger. É a melhor peça jovem da sua geração”. Estava tudo dito.
Hoje as coisas são muito diferentes. Mas. A raiva do Jaime é diferente da raiva do Jimmy. A nossa raiva é confusa, dispersa, plural. Ou, pelo menos, a minha é assim. Se é que lhe posso chamar raiva. É pela promessa de liberdade que se esfumou. É uma raiva pela destruição das coisas verdadeiramente importantes – a paz, o pão, educação, saúde – banhada num mar de irrelevâncias, banalidades e futilidades. É a raiva da indignação. As coisas são hoje muito diferentes. Mas.
Ficha artística:
Autor: Rui Pina Coelho
Encenação: Gil Salgueiro Nave
Cenografia, figurinos e cartaz: Luís Mouro
Desenho de luz: Fernando Sena e Pedro Bilou
Sonoplastia: Hâmbar de Sousa
Interpretação: Fernando Landeira, Sílvia Morais, Susana Gouveia e Tiago Moreira
Operação de luz e som: Hâmbar de Sousa
Assistência ao movimento: Inês Barros
Confecção de figurinos: Sofia Craveiro
Carpintaria: Pedro Melfe
Produção: Celina Gonçalves
Fotografia e Vídeo: Ovelha Eléctrica
Duração: 1h30min
Classificação etária: maiores 16 anos
Preço bilhetes: 6€ (desconto para estudantes, maiores 65 anos, sócios do Teatro das Beiras)