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Ponto de Vista… por António Justo

“Caminho Sinodal” na Alemanha – um desafio a outras vias sinodais

De Relevância é a Fé e o Amor e não a Homossexualidade

Caminho Sinodal é o debate de reformas entre católicos em via em todas as dioceses do mundo; as diversas conclusões das assembleias sinodais ganharão expressão definitiva no acto final do sínodo em Roma, em Outubro de 2023. Até lá cada país vai agendando e concretizando as suas assembleias sinodais com as respectivas conclusões a serem aferidas depois de feita a caminhada!

António Justo

Na 3ª Assembleia Sinodal em Frankfurt am Main, (3 a 5 de Fevereiro), que congregou bispos (os 27 bispados), leigos e associações representativas da igreja oficial na Alemanha, dos 14 textos disponíveis preparados em assembleias anteriores, foram trabalhados e votados os três (1) seguintes documentos como resoluções: 1°. “Para a conversão e a renovação. Fundamentos teológicos do Caminho Sinodal” e uma aprovação dos “não-homens” em relação ao tema “diaconato das mulheres”; 2°.  texto básico “Poder e Divisão de Poderes na Igreja – Participação Comum e Participação na Missão” e o 3°.  texto de acção “Envolvimento dos fiéis na nomeação do bispo diocesano”.

Os três textos foram autorizados e aprovados na segunda leitura como resoluções do caminho sinodal, com uma taxa de aprovação entre 74 e 92 por cento. A votação obrigava a um processo rigoroso: “Uma maioria de dois terços dos membros do sínodo – uma maioria de dois terços dos bispos (2)” … A Conferência Episcopal Alemã refere que mesmo nas votações, em que era exigida uma maioria de 2/3 dos membros episcopais da assembleia sinodal de acordo com os estatutos, isso sempre existiu” (3).  Exemplo da votação dos bispos: 41 sim, 16 não, 2 abstenções (Ver protocolos de votação por temas: exemplo, texto básico em alemão e inglês (4)).

O 2° documento determina que a igreja deve levar todas as pessoas a sério e não deve continuar a discriminar ninguém; isto é, homossexuais, divorciados, mulheres, devem ser apoiadas e reforçados a todos os níveis da igreja.

Em questões de homossexualidade parte-se do princípio que importante e decisivo deve ser a fé! A orientação sexual não deve desempenhar um papel neste contexto, para se poder cumprir a missão da Igreja à humanidade que se resume em proclamar a Boa Nova em todas as circunstâncias. Em todos os textos advoga-se uma igreja sem medos. Deve haver lugar para o humano, independentemente dos ideais que a igreja representa.

Quanto à função das mulheres na Igreja diz: “Não é a participação das mulheres em todos os serviços e ofícios da Igreja que requer justificação, mas sim a exclusão das mulheres dos serviços sacramentais”.  Objecto de discussão foram entre outros temas a moralidade sexual, o papel da mulher na compreensão do ministério e do poder eclesial.

Na Alemanha há muitos trabalhadores que têm vivido em uniões homossexuais (em segredo) , outros voltam a casar após o divórcio e pretendem participar nos sacramentos e trabalhar em actividades da igreja, sem medo. De notar que, na Alemanha, só a Cáritas (Católica) emprega mais de 600.000 pessoas a tempo inteiro (5).

O 3°. Documento decidiu que, no futuro, os fiéis de cada diocese devem estar mais envolvidos na votação para o bispo da diocese. Para já um corpo de cinco membros, incluindo duas mulheres, irá liderar a administração da diocese de Essen.

Ainda haverá mais duas assembleias sinodais na Alemanha até à Primavera de 2023, o que implicará ainda muita discussão pois, para já, caberá aos bispos e vigários gerais traduzirem os resultados desta assembleia em decisões concretas. Os sinodais e especialmente os bispos “reuniram” uma maioria de dois terços, mas o sucesso do processo de reforma “Caminho Sinodal” a ser revalidado legal, moral e teologicamente em Roma.

Deus está perto de todos independentemente das suas funções. Mas uma igualdade de votos de clero e leigos questiona também o assunto dos ministérios e da missão como indivíduo e como comunidade. Os coordenadores das assembleias revelaram discernimento ao proporcionarem votações também por grupos.

O caracter de missão institucional pode aplainar e facilitar a ligação. Deus é pai-mãe de todas as pessoas, todos somos filhos e como tal todos somos familiares de Deus. O padre é um servidor de Deus e a paróquia existe para todo o ser humano. A convicção cresce do interior não se devendo deixar influenciar demasiadamente pelos ventos, mas estes terão de ser tidos em conta para que o barco se mantenha à superfície das águas. As pessoas encontram-se em mudança e a igreja acompanha-as à medida que se muda (igreja peregrina). Não se trata das oportunidades da igreja nem de cálculos, mas de uma comunidade em peregrinação.

Como conclusão apresento uma Citação atribuída a Bertolt Brecht: “Quem luta pode perder. Aquele que não luta já perdeu”. Vista a coisa mais de perto a frase é mais própria da sociedade política do que da eclesial, mas torna-se mais verdadeira se substituirmos a palavra luta por empenho.

O seguimento de Deus pressupõe também estar atento aos sinais dos tempos, mas sem nos deixarmos subordinar ao espírito do tempo (Zeitgeist). Um outro aspecto importante a não perder de vista será a missão de cada um a nível individual, a missão de todos como comunidade e a missão da igreja no seu aspecto institucional;isto num tempo em que no Ocidente e só no Ocidente se luta contra o que é institucional, talvez para melhor ser conseguido o objectivo de se ir instalando, a nível universal um poder político anónimo.

Neste processo catalisador necessita-se muito cuidado e ponderação atendendo às diferentes perspectivas históricas e geográficas a nível mundial; de facto, as sociedades encontram-se em diferentes velocidades (também em termos de dioceses) o que pressupõe que uma sociedade progressista não imponha as suas passadas aos outros (este aspecto irá activar a luta entre mundivisões). Mesmo na história da Europa observa-se sempre uma certa dicotomia entre uma europa nortenha que aposta mais no individualismo e uma europa mais romana (católica) acentuando, a nível institucional, mais a comunidade! Se na Idade Média o espírito do tempo (Zeitgeist) abusava do indivíduo em favor da comunidade, hoje, ao contrário, no Ocidente o espírito do tempo esforça-nos a abusar da comunidade (instituição) em favor do individualismo. Precisa-se urgentemente de renovação, mas com moderação que não seja motivada apenas por indignações. (Em nota (6) apresento alguns dos meus textos relativos a este assunto)

Os sinodais e, note-se, os bispos “reuniram” uma maioria de dois terços, mas o sucesso do processo de reforma “Caminho Sinodal” a ser revalidado legal, moral e teologicamente será em Roma. O que serve a pessoa está com Deus, o que a não serve será triturado com as rodas do tempo!

*António da Cunha Duarte Justo, Teólogo
Notas em “Pegadas do Tempo”: https://antonio-justo.eu/?p=7078

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