Agora, “aquela ideia, nós criticámos muito” o Governo, de “nós vendermos roupa ao postigo é algo que completamente inconcebível, ninguém vai comprar umas calças de ganga ao postigo”, sublinha.
A “maior parte de nós, mesmo nessa possibilidade em 2021, tivemos as portas fechadas, houve muitos negócios que estiveram durante o primeiro ano de pandemia, portando março de 2020 a março de 2021, oito meses, sete meses num ano, fechados”, relata.
Sobre o número de unidades encerradas em Lisboa devido ao impacto da pandemia, Carla Salsinha refere que “ao nível da cidade” não consegue dar “o número exato”. Mas por exemplo, na Baixa, “encerraram mais de 100”.
Ou seja, só no primeiro ano, em 2020, “encerraram 100 lojas”, o que “é muito”, sublinha a presidente da UACS, que tomou posse em 12 de janeiro.
Apesar de uma parte do comércio em Lisboa ter empresários com alguma idade, assiste-se a uma nova vaga de jovens a abrir negócios de comércio e serviços na capital.
“Há um comércio que, de facto, são pessoas com alguma faixa etária e que não têm seguidores”, nomeadamente no que respeita às Lojas com História, que “nós temos, juntamente com a Câmara Municipal de Lisboa, de ver como é que as vamos poder ajudar porque são as tais lojas que são emblemáticas, mas que não têm seguidores e os seus donos já começam a atingir alguma idade”, admite.
Para Carla Salsinha, é preciso encontrar uma forma de as manter.
“Mas felizmente a grande parte do comércio que está a abrir já é com pessoas mais novas, com outra formação e outra capacitação, o que eu acho que temos aqui, fruto da pandemia, de nós todos voltarmos outra vez a vivenciar a própria cidade ou a dar valor ao que está mais perto de nós” e “também daquilo que é o objetivo do presidente da câmara, que é termos a cidade a 15 minutos, ou seja, em cada bairro (…) em 15 minutos ter uma plataforma de serviços completamente distintos, acho que isto aqui é uma grande oportunidade para o comércio”, salienta.
Além disso, “já há felizmente algumas empresas grandes em que já são as gerações mais novas que estão à frente”, dando exemplos do grupo da Sacoor Brothers, Perfumes & Companhia ou Eric Brodheim.
“Portanto, há aqui grupos que têm várias cadeias de lojas que já são as novas gerações com outra visão completamente diferente que estão a começar a entrar no negócio”, refere a presidente da UACS.
Questionada sobre quando é que o comércio vai chegar aos níveis de 2019, Carla Salsinha é perentória: “Antes de setembro, outubro, deve ser muito difícil”.
Isto porque o primeiro semestre será uma “prova de fogo” e falta ainda saber se medidas como máscaras, de distanciamento social, de limitações, começam a ser retiradas a partir de março.
“Vamos ver”, diz, salientando que, no que respeita ao teletrabalho, “já há vários indicadores que dizem que, pelo contrário, se numa primeira fase até houve um aumento da produtividade, agora cada vez está a ver menos porque também é um cansaço para as pessoas”.
“Acredito que primeiro que isto volte outra vez e que o próprio turismo comece a regressar”, antes do final de setembro “não voltamos a níveis de 2019”, considera.
Apesar da repercussão no setor do teletrabalho, há empresas que estão a apostar no modelo híbrido.
Carla Salsinha refere que “50%” das vendas é feita “por impulso”, pelo que o “teletrabalho é um desafio gigantesco”, uma vez que, como as pessoas não passam pelas lojas, “esse impulso é automaticamente reduzido”.
Por isso, “sendo uma realidade com a qual vamos ter que conviver”, é preciso “pôr o nosso comércio, o comércio de bairro, nas redes sociais”, utilizá-las como forma de chegar ao consumidor, mesmo o que está em teletrabalho, diz.
No futuro, quem sabe ser criado “um centro comercial ‘online’ para o comércio”, algo que admite não saber “se será fácil”.
A presidente da direção da UACS salienta que há aqui “uma aprendizagem”, já que acredita que o “comércio não volte a ser” como antes.
“As vidas das pessoas mudaram”, mas “ainda não conseguimos perceber se de facto esse regresso aos bairros vai continuar e se (…) essa mudança de hábito aconteceu ou não”, admite a responsável, apontando que a “mais-valia” do comércio de proximidade face ao ‘online’ “é seguramente o fator pessoal” e a diferenciação.
*LUSA