Está iminente um desfecho indesejado para um fim esperado.
Sim, podemos estar a falar em 5 a 7 anos para atingir um ponto de não retorno,quanto aos efeitos das alterações climáticas que permitam ao ecossistema como um
todo, a capacidade de se regenerar. Se continuarmos a consumir a este ritmo o saldo
mundial de poluição permitida, para que o problema das alterações climáticas não se
torne irreversível, estamos a antecipar o ponto de não retorno, que já surgia como
muito próximo, para praticamente metade desse tempo.
Um pouco de contexto:
À quantidade de dióxido de carbono e equivalente (CO2eq) – também designado por
gases com efeito de estufa (GEE) – que podemos colocar na atmosfera antes de existir
um grande risco de efeitos irreversíveis no clima, é chamada de orçamento de
carbono.
Para que o aquecimento da terra permaneça abaixo dos tais 1,5ºC, o orçamento de carbono é de cerca de 2.600 mil milhões de
toneladas. Segundo dados do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), desde 1870, já colocamos
200 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono e equivalente na atmosfera. Isto
significa que já utilizamos 85% do orçamento de carbono disponível e só nos resta, 400
mil milhões de toneladas.
400 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono parece uma quantidade enorme,mas neste momento, em todo o mundo, são colocadas mais de 40 mil milhões de
toneladas de dióxido de carbono na atmosfera todos os anos e com tendência a
aumentar.
O atual cenário:
A produção de energia é a principal fonte de emissão de GEE. Daí, ser a partir dela; das suas fontes, meios/tipologias de produção e consumo que será possível reduzir os problemas que são, os efeitos das alterações climáticas, que recordo, são provocados
pelo elevado nível de emissão dos GEE, a que o sistema de regeneração natural do
planeta não consegue, responder.
Os gases com efeito de estufa da indústria de energia continuaram a subir atingindo
novos máximos no ano passado, apesar do crescimento recorde da energia eólica e
solar, de acordo com um relatório divulgado dia 26 de junho.
O relatório 1 realizado pelo Instituto de Energia 2 (EI) em parceria com a KPMG e a Kearney, divulgado na sua 72ª edição annual da Statistical Review of World Energy,conclui que: os combustíveis fósseis continuaram a representar 82% do consumo total
de energia do mundo em 2022, em linha com o ano anterior, fazendo com que os
gases com efeito de estufa (GEE) subissem 0,8%. (https://www.energyinst.org/exploring-energy/resources/news-centre/media-releases/ei-statistical-review-of-world-energy-energy-system-struggles-in-face-of-geopolitical-and-environmental-crises)
Espera-se que o consumo global de energia aumente ainda mais no próximo ano, significando emissões de GEE mais elevadas, após a China ter determinado o fim das
restrições para viagens este ano, que significava um menor consumo de combustível
na aviação. O relatório, salienta ainda que as fontes de energia renováveis, excluindo a energia hidroelétrica, responderam apenas a 7,5% da procura mundial de energia no
ano passado.
É verdade que a produção de energia solar subiu 25% em 2022 e a produção de
energia eólica cresceu 13,5% em comparação com o ano anterior. No entanto, o crescimento das energias renováveis tem vindo a ser eclipsado, ano após ano, por um aumento no consumo global de energia de 1,1% no ano passado e um aumento de
5,5% em 2021, o que significou que mais petróleo e carvão foram consumidos para
responder à procura, segundo o relatório.
Se não bastasse o cenário terrível que este relatório nos apresenta de dados
consolidados de 2022, a Opep espera que a procura global de petróleo aumente para
110 milhões de barris por dia (bpd) e que a procura geral de energia aumente 23% até
2045, segundo a afirmação do seu secretário-geral, Haitham Al Ghais, em declarações
desta semana.
Preocupante:
Este aumento da procura de petróleo, é quatro vezes superior à que deveria ocorrer,se o mundo se mantivesse alinhado com os objetivos do Acordo de Paris, para reduzir
a temperatura global até aos imperativos 1,5ºC. Segundo alguns analistas declararam, perante o atual cenário, a queima de combustíveis fósseis para produzir energia, a este ritmo, só por si, elevará as temperaturas globais em mais 0,2ºC até 2100.
“Só existe uma forma de parar este desastre iminente: mudarmos drasticamente o
nosso padrão de consumo.”
Desperdiçamos comida, são toneladas que vão para o lixo, e além desse nosso excesso,precisamos ainda de gastar recursos para a recolher e tratar. Não dispensamos o carro para nada, viajamos na maioria das vezes, sem que seja necessário, ou esse, o melhor meio para o fazer. Vamos escovar os dentes e abrimos a torneira, deixando a água a correr, até enquanto colocamos a pasta de dentes na escova, e mesmo depois,enquanto
os escovamos. Nas nossas casas, ou nas empresas, ligamos as luzes e esquecemo-nos delas ligadas, os equipamentos elétricos e eletrónicos, ficam sempre em standby ou até ligados.
Vivemos uma insana urgência em consumir, mesmo quando não temos recursos
financeiros, endividamo-nos para isso. Sim é insano. Parece que um vírus terrível nos
toldou a mente e apenas vemos a imediata necessidade de consumismo, quase
sempre; desnecessário, não essencial e/ou dispensável. Sem sequer querermos
perceber que toda a causa gera uma consequência, e que neste caso, estamos a gerar
consequências terríveis. Nem mesmo quando somos arrasados por eventos que já dão
sinal do que está para vir: inundações em pleno junho, causadas por queda de precipitação invulgar, terríveis e devastadores incêndios que já ceifaram dezenas de
vidas, e o pior está para vir.
Por mais tecnologia que o Homem crie, por mais soluções que a tecnologia nos
disponibilize, acelerando a nossa preparação para os efeitos devastadores que as
alterações climáticas, estão e irão continuar a trazer-nos, a terrível notícia é a de que,
mesmo tendo em conta a capacidade de invenção humana, e a prontidão das
máquinas que estarão ao nosso serviço, os impactos que estamos a causar no
ecossistema climático, como um todo, trarão à humanidade consequências, não só
devastadoras, mas também, tão rápidas, que anulará qualquer capacidade de nos
prepararmos para elas.