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Ponto de Vista… por Antero Carvalho

Políticas de migração: O Portugal de ontem, hoje e amanhã

Não se enganem ao ler este meu artigo de opinião. Não sou um cidadão radical que olha os imigrantes que hoje chegam ao nosso país e a toda a europa, com repúdio. Sou um deles. Nos anos 70 fui um dos milhares de refugiados, fugidos de uma guerra civil, resultado do uma inexistente política de descolonização. Esse estatuto,acumulei-o com o de retornado, pois enquanto filho de colonos portugueses, emigrantes, levados pela política colonial do antigo regime, tornou-me ao mesmo tempo, angolano por nascimento e português por herança.

Antero Carvalho

Portanto, sei bem o que é sofrer os efeitos dos preconceitos em relação aos que chegam. Passei a minha infância e juventude a sentir na pele, tudo isso, numa época em que a cultura e educação do povo português, resultava em atitudes pouco amistosas e corretas em relação aos que chegavam. Fruto de vários anos de ditadura que com o seu fim, resultou na perceção de que a liberdade, era poder fazer e dizer tudo, levando à marginalização e repúdio social generalizado para com aqueles que chegavam e que – vinham ocupar, lugares e direitos dos que cá estavam–assim se pensava.

O Portugal de ontem

Portugal dos anos 70 era um país pobre. Pobre em infraestruturas, subdesenvolvido a todos os níveis; social, acadêmico, cultural, científico, comercial e industrial. Era um país cinzento em tudo, mas de um cinzento quase preto. Embora na época não se percebesse, hoje, é inquestionável que os cerca de 600 mil retornados das ex-colónias, junto coma entrada para a então denominada Comunidade Económica Europeia (CEE) nos anos 80, formaram a chave para o sucesso, que levou ao salto, do Portugal atrasado de então para o Portugal pojante de hoje.

Esses600 mil retornados, representavam mais de 6% da população portuguesa de então. Traziam um grau de analfabetismo de apenas 5%, contra os mais de 35% dos portugueses residentes na metrópole. Mais de 5% deles tinham já formação superior, traziam as cores do dinamismo comercial, cultural, artístico, industrial, e a liberdade social que, na época, nas ex-colónias se vivia, em oposição, às restrições que a ditadura sempre manteve como política de controlo social na metrópole. Isso, durante mais de 40 anos resultou, numa diferença abismal entre portugueses retornados das ex-colónia se os portugueses fechados na metrópole, quer em competências, quer em apetências.

Pode-se dizer, pois hoje é bastante claro, que foram esses portugueses os catalisadores do Portugal que temos hoje. Senão veja-se quem são esses ex-colonos e/ou descendentes diretos, e qual o papel que desempenham ou desempenharam na construção do Portugal de hoje. Entre tantos outros políticos; o anterior primeiro-ministro e o atual, empresários, comerciantes, escritores, professores, cientistas, e a lista segue. As mulheres – esposas, mães e filhas – que vieram das ex-colónias, tinham vivências e comportamentos, sentindo-se iguais a qualquer mulher de Paris, Londres ou Nova Yorque. Eram independentes, livres, desenvolvidas social, cultural e politicamente.

O Portugal de hoje

De um país atrasado em tudo, Portugal passou a ser, um exemplo de sucesso e de boas-práticas em inúmeros temas. Rácios de melhoria significativa na;educação, esperança de vida, saúde, infraestruturas, atratividade turística, segurança, desporto, cultura, ciência, inovação, economia, etc. São inúmeros os pódios que nos últimos anos temos alcançado. Todos eles foram,por mérito de todos nós enquanto povo, todos eles saíram do suor do rosto de cada um de nós. Fomos todos nós que construímos, juntos, o Portugal de hoje.

A imagem do Manuel da padaria que emigrou para o Brasil, a Maria de bigode que vivia perdida nos montes do interior,e que faziam de nós chacota, em muitos dos países para onde, por necessidade, muitos dos nossos compatriotas emigraram e aí,tiveram de enfrentar, acabaram. Hoje quem visita Portugal se vier com esse preconceito ainda enraizado, sofre um impacto abismal, pois o Portugal e os portugueses de hoje, estão a anos-luz dessa triste imagem.

Pela primeira vez na história de Portugal, com todas as dificuldades inerentes a tamanho feito, alcançamos e ultrapassamos a média de desenvolvimento; social, económico e financeiro dos designados países de primeiro mundo. Isto, é resultado do nosso próprio mérito e das visões sucessivas de alguns de nós, que depois, todos nós enquanto povo, desenvolvemos e materializamos. Pela primeira vez na história, o nosso sucesso e o seu segredo, foi resultado de um processo de total empenho de todos enquanto nação. E mais incrível ainda: Fomos muito bem-sucedidos.

O Portugal de amanhã

Como fenómeno contemporâneo que é sentido por toda a Europa e nos restantes países de blocos económicos ditos desenvolvidos, as dinâmicas desta nossa contemporânea realidade, tem trazido resultados demográficos que acarretam efeitos sociais conhecidos,em teoria há muito, mas que agora se começam a refletir, como alterações sociais relevantes, nestes países, de forma clara. A diminuição na taxa de natalidade e o aumento da esperança de vida, acarretam desafios que começamos a ter de enfrentar, sem que até aqui se tenha dado a devida atenção, na preparação de políticas de ajustamento a esta realidade.

Simultaneamente, a pressão vinda dos movimentos migratórios, resultado da procura por melhores condições de vida, que os povos oriundos de regiões com fracas condições de desenvolvimento, como são;as da Asia, Africa, Sul e Centro América, causam fenómenos e desafios que as atuais políticas de migração não estão a conseguir resolver atempadamente.Isto, irá resultar num Portugal e Europa muito diferentes do que temos hoje e que sonhamos enquanto projeto social, económico e político, inexistindo à data, a necessária preparação para evitar as consequências sociais que se avizinham.

Os imigrantes representam 5,2% do total da população residente em Portugal. Os dados definitivos dos Censos 2021 mostram que, em Portugal, há 542.165 pessoas de nacionalidade estrangeira. Dessas, mais de 35% são de nacionalidade brasileira. Mais de 60% dos estrangeiros em Portugal estão empregados e mais de 30% admitem viver em alojamentos sobrelotados. Salientando que, salvo raras exceções, estes, têm origem nas classes sociais mais baixas dos seus países, trazendo até nós;hábitos, atitudes e as consequências daí resultantes.

Todos estes números irão continuar a aumentar exponencialmente nos próximos anos, e se assumirmos que a influência destas culturas, hábitos, bons e maus, irão afetar o país que seremos daqui para a frente, pergunto se não seria fundamental levar a cabo um plano nacional de integração, sério e robusto, criado através de políticas nacionais, mas consubstanciado em cooperação com esses países, assente numa visão estratégica e integrada. Entregar nas mãos do acaso e numa irresponsável política de gestão de navegação à vista, o futuro que tanto nos custou a construir até aqui e que é o motivo pelo qual estes imigrantes procuram o nosso país, não servirá, nem aos portugueses, nem àqueles que procuram usufruir do que até aqui conquistamos.

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