A Escola e o papel da família
Com o início de mais um ano letivo, imbuímo-nos de expectativas, anseios e reflexões. A
melodia do quotidiano retoma o seu compasso, e os estabelecimentos de ensino preparam-se para receber, uma vez mais, as nossas crianças e jovens. É neste contexto que se apresenta uma frase que, mais do que uma mera sequência de palavras, instiga-nos a uma profunda reflexão:
” A escola voltará a ser a segunda casa, quando a família volte a ser a primeira escola”
Houve um tempo, em que os pais, eram os primeiros mestres, ensinando valores, tradições e as primeiras letras. Os serões passados ao redor da lareira, em que as histórias eram contadas e recontadas , eram momentos das primeiras aprendizagens. O pensamento de que a família precisa de voltar a desempenhar o papel central que está na base da educação das nossas crianças e jovens, é atualmente, por muitos percebida apenas, como uma invocação nostálgica dos tempos em que a família era o epicentro da formação inicial.
Nesses tempos que parecem distantes, a casa era o primeiro reduto de aprendizagem. Nas
cozinhas fumegantes, entre histórias de avós e tarefas diárias, as crianças aprendiam valores,ética, responsabilidade e amor. Eram ensinadas não apenas com palavras, mas através do convívio, do exemplo, das narrativas familiares que teciam a identidade de cada um. Era A casa o solo fértil onde germinavam os pilares fundamentais do carácter e as primeiras sementes da educação.
Com a evolução dos tempos e a crescente complexidade da vida moderna, delegámos à escola muitas dessas responsabilidades. Distraídos com as exigências profissionais, as falácias dos facilitismos tecnológicos e os modismos sociais, muitas famílias, por vezes, relegam para segundo plano a sua função primordial de educação. Mas, em boa verdade, nenhuma instituição, por mais bem-intencionada e equipada que seja, pode substituir o lar na construção da personalidade, carácter e valores de um indivíduo.
Hoje, numa era de constante agitação e de omnipresente tecnologia, é fácil relegar a educação dos mais jovens a dispositivos eletrónicos ou às obrigações das instituições de ensino. A escola,por sua vez, tem sido cada vez mais sobrecarregada com responsabilidades que outrora pertenciam ao núcleo familiar, como são; a formação cívica, moral e até a emocional. Não se trata de diminuir a importância vital da escola, esse espaço plural e enriquecedor, mas de compreender que, se queremos que ela seja uma verdadeira extensão da casa, é imperativo que a família retome o seu papel de Mestra.
Este reequilíbrio não implica que os pais se tornem professores especializados nas diversas
áreas do saber. Significa, sim, que voltem a ser os principais responsáveis pela formação ética, moral e social dos seus filhos, preparando-os não apenas para serem bons alunos,
mas sobretudo bons cidadãos e seres humanos. É urgente o apelo ao regresso da educação de base familiar, um pedido para que os pilares da educação – família e escola – trabalhem de forma harmoniosa. Se por um lado, a família pode instigar a curiosidade, fornecer as bases do respeito, da empatia e do amor, a escola pode alicerçar esse edifício com o rigor científico, técnico, artístico e cultural.
Este regresso à ideia de que “a família é a primeira escola” não é um mero exercício nostálgico, mas uma necessidade urgente. Se quisermos que as futuras gerações prosperem num mundo em constante transformação, é imperativo que ambos, família e escola, retomem os seus papéis fundamentais na persecução desse pilar social que é a educação. E, quem sabe, com essa simbiose reforçada, os alunos possam realmente dizer que, ao entrarem na escola, estão a entrar na sua segunda casa.
E como pode a família voltar a ser a primeira escola? Reaprendendo a ouvir, a dialogar, a
passar tempo de qualidade. Precisamos redescobrir o valor das refeições partilhadas, dos jogos em família, das histórias contadas nos serões de fim de semana. A tecnologia, que tanto nos oferece, não pode substituir o toque, o olhar, a presença física e emocional.
O ano letivo que agora se inicia traz consigo a oportunidade de refletirmos sobre estas
questões, sobre o papel que cada um de nós desempenha na educação das nossas crianças e jovens. Quando a família se voltar a ligar com a sua missão de ser a primeira escola, a escola,certamente, voltará a ser aquela segunda casa, acolhedora e complementar,
onde todos se sentem parte dela. E talvez, em breve, possamos não apenas celebrar as conquistas académicas, mas também a reunião desses dois pilares fundamentais: a casa e a escola, harmoniosamente entrelaçadas na nobre missão de educar.